O Caminho de Jacinto: eternizar a memória de Eça de Queiroz
Certamente que já todos ouviram falar de Eça de Queiroz! E quem já tenha tido o privilégio de ler o romance "A Cidade e as Serras", este roteiro que vou apresentar de seguida é precisamente sobre “O Caminho de Jacinto”.
Ou seja terá a oportunidade de fazer a mesma “viagem” que Eça de Queiroz fez quando foi visitar, pela primeira vez, a Quinta que herdou.
Tal como no romance, o Caminho de Jacinto tem início na Estação de Aregos, localizada na Freguesia de Santa Cruz do Douro, no concelho de Baião, expandindo-se até à tranquila, agradável e emblemática Casa de Tormes.
É caso para dizer que este percurso tem todos os ingredientes para um bom passeio: rio, natureza e património arquitetónico de grande imponência.
A viagem até à Estação de Aregos
O destino estava traçado e era hora de divulgar à Maria João o roteiro, que antes de eu continuar a falar fez logo uma pergunta muito pertinente: “Mamã, quem foi o Eça de Queiroz”?
Fiz uma breve explicação adequada à idade e partimos em direção a Baião. No carro as perguntas foram, mais uma vez, surgindo: “Eu já fui a Baião?”, “Achas que vai estar um comboio na estação?”, “O que achas que vamos encontrar no percurso?” e com a seguinte afirmação demonstrou a ansiedade (boa) e típica antes de chegarmos ao destino: “Estou muito curiosa por conhecer o caminho, na segunda-feira tenho mais uma novidade para contar aos meus amiguinhos”.
E foi por entre conversas, perguntas e música à mistura, rock de preferência, segundo os gostos musicais da mais pequena, que até confidenciou “que quer aprender a ser DJ”. E, sem darmos por isso já tínhamos chegado à Estação de Aregos.
Da Estação até à Casa de Tormes
Íamos começar o caminho, mas com a inquietação, fomos para a Estação e já estávamos prontas para seguir, quando me lembrei que o caminho começa em frente à Estação, onde consta uma placa informativa sobre o Caminho e está escrito o seguinte “Bem-vindo a Santa Cruz do Douro”. Visitar a Estação e apreciar a área envolvente é obrigatório.
Para ter a certeza do percurso e para saber mais acerca do mesmo entrei no espaço de Jacinto, na Estação, onde uma funcionária muito simpática, isto é mais uma prova que a região é feita de gente afável, fez uma explicação do percurso e deu-nos indicações sobre o mesmo. Este local merece mesmo a visita antes de partir à descoberta do percurso.
Terminada a explicação seguimos pelo caminho indicado, passámos a linha de comboio, com muita atenção e prudência, e continuámos pelo trilho de terra. Aqui, o passeio é contemplativo e marcado pela presença do Rio, mesmo ao nosso lado direito, e pelas aldeias nas encostas da margem.
Esta parte inicial é por si só muito convidativa e envolvente.
Uma paragem para admirar e umas fotografias para a posterioridade e estava na hora de prosseguir. Passagem novamente pela linha de comboio e seguimos rumo.
Encontrámos a “Quinta da Tenchoadinha” e seguimos caminho acima pela esquerda.
Um parêntesis, o percurso está bem marcado, não tem que enganar.
Chegámos à estrada de alcatrão e fomos pela direita. Passámos a “Casa das Fragas”, a “Casa de Quintela” (1904) e mais acima a “Casa de Nicolau”.
Uma subida de paralelos estava à nossa espera, mas no final tínhamos um “prémio”, um cordeiro ainda com poucos dias de vida junto da mãe. A Maria João adorou e por ela tinha ido ter com o animal “tão fofinho”.
A partir daqui, e durante alguns metros, o percurso funde-se com a natureza e surge pintado de amarelo, com as mimosas no auge a anunciar a chegada da Primavera, mas mais à frente, logo percebemos, pelas folhas castanhas no chão, que ainda estamos no inverno.
Por momentos fechei os olhos, respirei fundo, inspirei e recarreguei a energia vital muito importante na minha/nossa vida.
O Caminho vai começando a subir e voltámos novamente a uma estrada de alcatrão, virámos à esquerda e logo descobrimos a torre da Casa de Cabeção.
Caminhámos mais um pouco, seguimos pela direita, num caminho de paralelos e um pouco mais à frente já estávamos a ver nitidamente a “Casa de Cabeção”. Mais acima encontrámos um cruzamento, seguimos à esquerda pelo caminho, desta vez em terra, e subimos, subimos e… subimos.
Calmamente e com paragens e com a máxima da Maria João, “uma aventureira nunca desiste” chegámos ao cimo. Aqui é possível ver o Largo da Igreja e do Cemitério de Santa Cruz do Douro, onde está sepultado Eça de Queiroz.
Continuámos a subir, encontrámos a placa “Caminho de Pedreda”, ignorámos, pois não é por aí o caminho e, mais uma vez, continuámos a subir.
Após a “Casa de Ladeiro” é para continuar a subir à direita, pois o caminho apresenta mais uma subida íngreme, haja fôlego, mas isso, graças a Deus, é coisa que não nos falta.
Apesar de ser um percurso com muitas subidas, fizemos com naturalidade, nomeadamente, a Maria João. Não forço nada, não tenho pressas e com vontade e muita calmaria percorremos o trajeto.
Chegada à Casa de Tormes
No cimo do lugar de “Cedofeita” virámos à esquerda e depois seguimos em frente. Olhámos e avistámos, já não muito longe, a Casa de Tormes. Estávamos muito perto e a vontade de chegar era grande. Conversa puxa conversa e quando nos apercebemos já estávamos na Casa de Tormes.
À nossa frente tínhamos o "Restaurante de Tormes" e a Maria João como boa apreciadora e com bom olho disse logo “Oh mamã, este restaurante tem muito bom aspeto, temos que vir cá almoçar”. Eu concordei, obviamente, e ficou prometida a ida ao restaurante.
Vagueámos, rapidamente, pelo espaço exterior da Fundação, pois faltava pouco para começar a anoitecer e não tínhamos, infelizmente, tempo para mais, o percurso estava novamente à nossa espera, desta vez em sentido descendente até à Estação, onde tínhamos o carro.
Na minha opinião, o Caminho de Jacinto é uma excelente forma de promover, valorizar e eternizar a memória do grande escritor que foi Eça de Queiroz e é uma magnífica experiência cultural para partilhar com a família ou com os amigos.
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