A Páscoa da minha infância
Tenho muito presente na minha mente a
Páscoa da minha infância. Cresci numa aldeia no concelho de Amarante, rodeada
de muitas/os primas/os, todos com idades muito próximas e de uma família, tanto materna
como paterna muito numerosa e unida. Na minha aldeia, a Páscoa era um momento
muito respeitado por todos.
Na semana da Páscoa toda a gente
fazia compras, arrumava e limpava a casa e comprava-se roupa nova para estrear.
Uma azáfama!
O Domingo de Páscoa começava muito
cedo com a ida à missa, com a roupa nova vestida. Nesse dia nem existia
dificuldade para sair da cama, tal era o entusiasmo por vestir a roupa nova e
passar um dia muito feliz e divertido em família.
De regresso a casa era tempo de
preparar a cruz com flores, que eram apanhadas de véspera e deixadas num cestinho, à entrada
do portão para receber o Compasso. Para anunciar a saída da Igreja eram lançados
foguetes. As famílias esperavam, reunidas na sala, que o Compasso chegasse para
dar a “Cruz a beijar”. Antes da partida do Compasso para a visita a outras casas voltavam-se a lançar foguetes. Confesso que não gostava nada desta parte. Inclusive,
tenho uma peripécia “triste”. Um ano, ao dirigir-me para casa de uma tia foram
lançados foguetes e eu com medo comecei a fugir, tropecei, caí e rasguei as
minhas calças novas. Uma tristeza que nunca mais esqueci.
Tal
como já disse, a minha
família é muito
numerosa e as casas eram ao lado umas das outras ou muito perto, então, era uma
correria todo o dia para ir “beijar a Cruz” em todas as casas. Chegávamos ao
fim do dia muito cansados deste frenesim, mas o coração estava a rebentar de
felicidade.
Neste dia as mesas eram fartas a nível
alimentar, havia de tudo e parece que existia sempre mais um espacinho no estômago
para receber mais uma iguaria. Havia sempre algo para experimentar em cada
casa. Uma alegria para o colesterol que batia palmas de felicidade.
O dia terminava em casa da minha avó materna,
a última casa a receber
o Compasso antes de regressar à Igreja para nova missa. A família juntava-se
toda à volta da mesa para mais uns petiscos e para comer o famoso caldo verde
que a minha avó, uma cozinheira de mão cheia, confecionava com muito amor.
Tinha que usar a maior panela que tinha no armário, aquela que estava destinada
para estas festividades, pois os comensais eram muitos. As crianças brincavam
felizes, a energia nunca esgotava, e os adultos conversavam alegremente. Agora
que estou a reviver estes bons momentos é inevitável os olhos não ficarem embaciados
com tanta saudade.
No fim da missa havia uma sessão de
fogo de artifício, então, como a casa da minha avó era virada, em linha reta, para
a Igreja, colocávamos cadeiras ao longo da varanda para assistirmos ao fogo em
grande plano.
O brilho dos foguetes no céu era o espelho da felicidade do meu
coração após um dia muito feliz de Páscoa.
Era assim o Compasso na casa dos
Paroquianos da minha aldeia. Era assim a minha Páscoa.
Entretanto, os tempos mudaram e
muitas das tradições perderam-se. Uma pena! Tenho esperança
que após esta pandemia
que nos fez repensar tudo, voltemos a recuperar esta tradição. Gostava muito
que a minha filha, tal como eu, crescesse com estas memórias.
Foi muito bom recuar no tempo e
reviver com muita saudade e nostalgia um dos momentos (felizes) da minha infância:
a Páscoa.
Tenham uma Páscoa Feliz, em casa!
Saudades ❤
ResponderEliminarBoa Páscoa 🐰🥂
Muitas saudades. Uma Páscoa feliz para vocês :)
EliminarSim, era realmente um grande dia muito cansativo e muita correria 🐰mas ao mesmo tempo de muita felicidade , beijinhos e boa Páscoa família 🙏🐰🐣
EliminarTenho a certeza que ainda vamos voltar a viver momentos (muito) felizes como os que descrevi no texto. Um beijinho grande e tudo de bom.
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