Um percurso mítico com vistas para o Rio Douro

Para mim as caminhadas funcionam como um alimento para a alma. Confesso, a minha estava mesmo a precisar. Pode parecer-vos exagerado mas para mim as caminhadas são sinónimo de mente sã e corpo são. 

Parti à descoberta de um trilho em memória da figura mítica “Zé do Telhado”, o conhecido salteador português que executou o assalto à Casa do Carrapatelo. 

Segundo o que apurei nas minhas pesquisas pensa-se que terá sido este o caminho que o Zé do Telhado percorreu quando foi assaltar a Casa de Carrapatelo. 

Este percurso, com vistas para o Rio Douro e por caminhos rurais, de pequena rota (PR9 – Caminhos do Zé do telhado) está implementado na freguesia de Penha Longa e Paços de Gaiolo, na encosta sul da Serra de Montedeiras, no concelho do Marco de Canaveses.

Uma pausa na minha experiência para uma breve explicação de quem foi o “Zé do Telhado”.

“Zé do Telhado” 

É uma figura distinta do século XIX no Norte de Portugal. Foi militar e posteriormente assaltante como chefe de uma quadrilha, ficando famoso por “roubar aos ricos para dar aos pobres”. O seu mais afamado assalto, à Casa do Carrapatelo, foi efetuado a 8 de janeiro de 1852. 

O percurso inicia-se com uma subida, em escadaria, com 197 degraus. Sim, leu bem são 197 degraus para subir e, claro, visto que o percurso é circular, no final da caminhada vai ter que descer (pensamento positivo a descer o esforço é menor). 

Feitas as contas são 394 degraus, mas se já está a pensar em desistir, anime-se, é que depois da subida vai ter a possibilidade de vislumbrar magníficas vistas panorâmicas sobre o Rio Douro e toda a envolvência. Para mim esta primeira parte, sempre a subir, é das vistas mais bonitas do trajeto, é deslumbrante mesmo, acredite. 

Uma sugestão: para a subida ser “mais leve” pare com alguma frequência para normalizar a respiração e os batimentos cardíacos e contemple a paisagem. Use e abuse do telemóvel ou da máquina fotográfica. 

Sente-se nas pedras a contemplar e quem sabe a agradecer a possibilidade de apreciar estas vistas (esplêndidas) sobre o vale.

Depois da subida temos a possibilidade de escolher de entre três propostas por onde ir, sendo que qualquer um dos lados vai dar ao mesmo local. Optei pelo Caminho panorâmico. As vistas para o Rio continuaram e vi muitas casas em ruínas e imaginei que histórias de outros tempos elas contam. 

Ia embrenhada nos meus pensamentos quando me deparei com uma placa a indicar “Vista para a Casa da Avelosa”. Parei e apreciei (ao longe) a casa. É possível ir até à casa, mas optei por não ir. Está ao abandono, mas é bem percetível a sua imponência e beleza. 

Casa da Avelosa


Continuei caminho e passei junto à Quinta da Azenha, uma fachada magnificente que cativa o olhar. É mais um exemplo da memória coletiva que está presente neste território. 

Quinta da Azenha

Depois de apreciar, voltei a caminhar e deparei-me com muitos cogumelos selvagens, não resistir a parar e fotografar. 

Aqui, uma chuva miudinha resolveu começar a cair, mas o São Pedro, que é um brincalhão, sabia que precisava muito desta caminhada e que não ia ser a chuva que me ia demover, resolveu, por isso, brindar-me com um sol ainda que envergonhado. 

Prossegui caminho e fiz um desvio para apreciar, por fora, a Casa da Cardia. 

Casa da Cardia

Retomei o trilho e qual não é o meu espanto quando vejo a vir na minha direção um rebanho de ovelhas. Como não contava com estas visitas não sei quem ficou mais assustada. Se elas ou se eu. 

Elas recuaram e eu, calmamente, para não as assustar, segui caminho em direção à Barragem de Carrapatelo, um dos pontos de interesse do trilho. 

Vistas para a Barragem de Carrapatelo

Nesta fase o percurso faz-se por estrada em alcatrão e sempre a descer até à Barragem. Aqui chegada, foi tempo de ver a altivez da Barragem, tirar umas fotografias, admirar a Casa de Carrapatelo ao fundo e ganhar forças para mais uma etapa sempre a subir. 

Confesso, a subida não custou nada. As minhas pernas se tivessem a possibilidade de ler o que acabei de escrever não diziam o mesmo. Queridas pernas, sem esforço as coisas não valem a pena. 

Depois da subida o trajeto passa pelo interior dos núcleos rurais da freguesia e é possível ver os vestígios de estruturas de apoio ao bairro que albergou trabalhadores e técnicos durante a sua construção nos primeiros anos de funcionamento. 

E como o Amor deve estar sempre presente em tudo, encontrei o “Penedo do Amor”. 

O percurso continuou com vistas para o Rio Douro e por entre casas e a subida, agora descida, estava quase a chegar. 

Não resisti e voltei a observar e a fotografar. Tenho quase a certeza que ouvi o telemóvel a dizer: “mais fotografias, já tiraste várias aqui”. E eu apetecia-me dizer-lhe: “parece que já não me conheces e sabes que tenho que tirar várias fotografias”

Conclusão: foi uma caminhada libertadora, por um percurso bonito, onde reabasteci a alma e o coração. E se há coisa que me deixa feliz é isto: caminhar!

Venham daí percorrer o PR9 – Caminhos Zé do Telhado e depois partilhem a experiência comigo. Tenho todo o gosto em saber. 

Boa(s) caminhada(s). 

Nos seguintes artigos conheça a minha experiência por outros dois percursos pedestre no Marco de Canaveses: 


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